quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Futuro (próximo) do Comércio Global

Falta pouco mais de três meses para que o estopim que fez explodir a crise financeira mundial complete o seu segundo aniversário. E ao contrário das previsões mais otimistas, a recuperação do comércio global ainda está longe de ser uma realidade.
De acordo com nossas estimativas preliminares, as importações totais do planeta devem ter chegado, no primeiro trimestre de 2010 a US$ 3,4 trilhões. Tal montante materializa um crescimento de 23,7% diante do mesmo período do ano anterior (período mais agudo da crise), mas é ainda 15% inferior ao comércio internacional verificado em igual espaço de tempo em 2008.
Se considerarmos o apogeu das trocas, entre abril e junho do mesmo 2008, a defasagem vai para 21,6%.
Em palavras mais claras, está faltando cerca de US$ 942 bilhões no mercado internacional. Esse valor, em termos de riqueza global, seria mais ou menos equivalente a tirar o Brasil do mapa.
A boa notícia é que os dados parciais das importações globais computados até março último mostram uma dinâmica de recuperação moderada que, caso continuasse no mesmo ritmo, permitiria a efetiva retomada do crescimento do comércio internacional a partir de meados, ou final do ano que vem.
Por exemplo, as importações dos EUA fecharam o primeiro trimestre deste ano em US$ 440 bilhões, o que é 20,7% superior ao mesmo período de 2009, mas ainda 15% abaixo dos três primeiros meses de 2008. Os principais países de maior participação nas trocas internacionais, que têm dados fechados até março último, estão em situação similar: o Japão registra crescimento de 22,6% frente a igual período de 2009 e queda de 13% diante dos mesmos meses de 2008; a França apura resultados de, respectivamente, 15,2% e -18%.
A China só divulgou informações até dezembro. Assim, no último trimestre do ano passado, o país oriental acumulou alta de 22,3% diante do quarto trimestre de 2008 e crescimento da ordem de 11% frente aos últimos três meses de 2007.
Evidentemente, os parâmetros de avaliação para a economia chinesa têm de ser diferenciados, dado o ritmo de expansão do país, que ainda possui larga capacidade de explorar o enorme volume da força de trabalho como fator diferencial de expansão da produção e, conseqüentemente, de negócios internacionais.
Porém, apesar de meio esquecido pela mídia nos últimos dias, a grande incerteza sobre o futuro vem da Europa. O estouro das contas públicas gregas (seguidas da Espanha e Portugal) colocaram em xeque muito mais do que a capacidade do país em gerir suas finanças.
O problema é que para evitar um desastre maior em setembro de 2008, os principais bancos centrais do Velho Mundo seguiram o exemplo dos EUA e bancaram os furos do sistema financeiro através de trilionárias emissões de títulos. Pelo outro lado, os juros caíam para evitar colapso do consumo.
Em outras palavras, o que estava sendo feito era colocar dinheiro bom em negócios provavelmente ruins, sendo que para isso foi necessário pedir valores emprestados, pagando menos do que antes.
A falta de melhores negócios e a grande credibilidade da União Européia fizeram com que tal iniciativa, aparentemente maluca, desse certo naquela época. Entretanto, o grande susto de cataclismo financeiro já passou. Quem tem dinheiro, aos poucos, vai perdendo o medo e busca fontes mais rentáveis de investimento. E com o fiasco grego, é claro que a desconfiança sobre os títulos em Euro aumentaram. E isso é risco para a atividade econômica mundial.
Nos próximos meses será interessante observar a evolução das importações globais, pois elas expressarão os primeiros efeitos do que poderíamos chamar de segundo round da crise global.
Então, vamos aguardar para ver se terão nocautes, ou só umas trocas de tabefes de poucas conseqüências.

02/06/2010 Fonte: Economista Eduardo Starosta



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