sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Nova Carta Aberta, agora a todas as secretárias e secretários de educação

Senhoras secretárias, senhores secretários,
Por favor, não tentem inventar a roda.
PAREM de inventar projetos, projetinho, projetões.
PAREM de distribuir o dinheiro da educação por ONGs amigas e por “contratados” para tentarem fazer o que os professores têm que fazer.
O dinheiro da educação tem que ser gasto COM A EDUCAÇÃO E COM OS EDUCADORES E EDUCADORAS
Basta dar condições a nós, profissionais da educação, e nós faremos o que devemos e sabemos fazer.
Sim, ao contrário do que vocês pensam, nós sabemos fazer!
E , sim, nós, profissionais da educação. Porque não somos políticos com cargos indicados, temporários, vindos de qualquer área da politicagem em troca de sei lá o que vocês dão em troca.
Porque nós somos profissionais da educação que estudamos, treinamos, capacitamos, pensamos em como fazer o que deve ser feito (e por favor, não se considerem profissionais da educação, porque me ofenderiam).
Então basta que nos dêem condições, desde a nossa atuação na mais tenra infância (creche, pré-escola), passando pelo 1º e 2º segmentos do fundamental.
Então, deixo uma dica pra vocês. E de graça, ok? Não precisam me pagar consultoria milionária (nem baratinha, porque essa não existe:
Pra revolucionar a educação, não precisa muita coisa, bastam 5 passos:

1 – Contratar os professores, com salário decente e compatível, para uma só escola, por 40 horas, com dedicação exclusiva, como os professores das universidades.
Da mesma forma, não nos obrigar a estar 40 horas dentro de sala de aula, mas, além da sala de aula: fazendo planejamento; discutindo com os colegas; fazendo formação continuada; pensando e aplicando projetos na escola; trabalhando individualmente ou em grupos pequenos com aqueles alunos com maiores dificuldades, para além da sala de aula; desenvolvendo oficinas (artes, cultura, literatura, esportes, ciências…); desenvolvendo pesquisas sobre o cotidiano escolar; atendendo e conversando com os responsáveis dos alunos, dentre outras atividades.
Não pensem que a escola, a educação, a formação de um cidadão se dá exclusivamente no enclausuramento do professor e do aluno em sala de aula!
2 – Colocar os alunos efetivamente em horário integral na escola.
Friso “na escola” para não deixar margem àquela enganação de bairro-escola ou outras baboseiras que colocam meia dúzia de alunos no contraturno em alguma atividade e alardeiam que a escola é de horário integral. Já tive a oportunidade de criticar isso neste artigo.
Alunos entrando 8h (horário de gente normal) e saindo às 17h, pra ir pra casa.
Ou seja, escola de um só turno, como em todo o resto do mundo. Escola de 3 turnos (e, em alguns casos escabrosos, até de 4 turnos!) só no Brasil dos Absurdos.

3 – Limitar o quantitativo de alunos dentro de sala de aula, independente do tamanho da sala de aula!
Desde a educação infantill até o 9º ano, 15 alunos é o ideal, 20 é aceitável.
Mas por que isso, senhoras secretárias e senhores secretários? Porque a educação, no caso de crianças e adolescentes, se faz na interação aluno-professor, no contato, no dia a dia, no conhecimento mútuo um do outro, na troca, nas perguntas e respostas.
E, como vocês deveriam saber mas não sabem, isso é impossível em uma sala com um professor e 40 alunos (muitas vezes adolescentes carentes de tudo em plena ebulição hormonal).

4 – Uma escola estruturada.
Sala de projeção preparada pra colocar a apresentação (filme, curta, power-point, seja lá o que for); sala de leitura com responsável aberta o dia inteiro; sala de informática com responsável aberta o dia inteiro (e com mais de 10 computadores funcionando!!!); material didático sem limites, mas também sem distribuição forçada entre os alunos; xerox pros professores; internet wireless banda larga decente; computadores disponíveis nas salas, sala dos professores, sala de leitura e outros locais; sala de ciências, sala de artes e de outras disciplinas; quadra de esportes decente (até mesmo mais de uma), com vestiário, materiais esportivos e outras necessidades; áreas de lazer, áreas de descanso, áreas de jogos e brincadeiras; salas para atividades culturais (música, dança, pintura…)…
… Enfim, uma escola estruturada.

5 – Outros profissionais na escola para atuarem junto aos professores(as).
Psicólogos(as), pedagogos(as), assistentes sociais, médicos(as), dentistas, nutricionistas, dentre outros.
Senhoras secretárias e senhores secretários(as), as crianças que recebemos são carentes de tudo, como já disse aqui e como já disse em outro artigo, o qual teve uma grande repercussão.
Desta forma, o que eles não têm lá fora – apoio, conversa, assistência – a escola tem que dar. Simples.
E só.
Pra isso necessita-se de investimento de verdade na educação, não de mentirinha. Mas dinheiro sabemos que tem, né?
Depois disso, senhoras secretárias e senhores secretários de educação, podem nos cobrar o que quiserem. Podem nos cobrar resultados, podem nos cobrar melhoras no ensino, podem nos cobrar trabalho, presença, felicidade, carinho, beijinhos…
Podem nos cobrar um Brasil melhor daqui a uns 20 ou 30 anos.



Declev Reynier Dib-Ferreira
Profissional da educação

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